quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Saudades...

Chega De Saudade - Vinicius de Moraes e Tom Jobim

Vai minha tristeza e diz à ela que sem ela não pode
ser. Diz-lhe numa prece que ela regresse, porque eu
não posso mais sofrer.

Chega de saudade, a realidade é que sem ela não há
paz, não há beleza é só tristeza e a melancolia que
não sai de mim, não sai de mim, não sai...

Mas se ela voltar, se ela voltar, que coisa linda...
que coisa louca... pois há menos peixinhos a nadar no
mar, do que os beijinhos que eu darei na sua boca.

Dentro dos meus braços, os abraços hão de ser milhões
de abraços: apertado assim, colado assim, calado
assim; abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim, que
é para acabar com esse negócio de voce viver sem
mim.

Poetry break

Poema temperamental
(Joaquim Pessoa)

Ó caralho, Ó caralho

Quem abateu estas aves?
Quem é que sabe? quem é
que inventou a pasmaceira?
Que puta de bebedeira
é esta que em nós se vem
já desde o ventre da mãe
e que tem a nossa idade?

Ó caralho, Ó caralho

Isto de a gente sorrir
com os dentes cariados
esta coisa de gritar
sem ter nada na goela
faz-nos abrir a janela.
Faz doer a solidão.
Faz das tripas coração.

Ó caralho, Ó caralho

Porque não vem o diabo
dizer que somos um povo
de heróicos analfabetos?
Na cama fazemos netos
porque os filhos não são nossos
são produtos do acaso
desde o sangue até aos ossos.

Ó caralho, Ó caralho,

Um homem mede-se aos palmos
se não há outra medida
e põe-se o dedo na ferida
se o dedo lá for preciso.
Não temos que ter juízo
o que é urgente é ser louco
quer se seja muito ou pouco.

Ó caralho, Ó caralho

Porque é que os poemas dizem
o que os poetas não querem?
Porque é que as palavras ferem
como facas aguçadas
cravadas por toda a parte?
Porque é que se diz que a arte
é para certas camadas?

Ó caralho, Ó caralho

Estes fatos por medida
que vestimos ao domingo
tiram-nos dias de vida
fazem guardar-nos segredos
e tornam-nos tão cruéis
que para comprar anéis
vendemos os próprios dedos.

Ó caralho, Ó caralho

Falta mudar tanta coisa.
Falta mudar isto tudo!
Ser-se cego surdo e mudo
entre gente sem cabeça
não é desgraça completa.
É como ser-se poeta
sem que a poesia aconteça.

Ó caralho, Ó caralho

Nunca ninguém diz o nome
do silêncio que nos mata
e andamos mortos de fome
(mesmo os que trazem gravata)
com um nó junto à garganta.
O mal é que a gente canta
quando nos põem a pata.

Ó caralho, Ó caralho

O melhor era fingir
que não é nada connosco.
O melhor era dizer
que nunca mais há remédio
para a sífilis. Para o tédio.
Para o ócio e a pobreza.
Era melhor. Concerteza.

Ó caralho, Ó caralho

Tudo são contas antigas.
Tudo são palavras velhas.
Faz-se um telhado sem telhas
para que chova lá dentro
e afogam-se os moribundos
dentro do guarda-vestidos
entre vaias e gemidos.

Ó caralho, Ó caralho

Há gente que não faz nada
nem sequer coçar as pernas.
Há gente que não se importa
de viver feita aos bocados
com uma alma tão morta
que os mortos berram à porta
dos vivos que estão calados.

Ó caralho, Ó caralho

Já é tempo de aprender
quanto custa a vida inteira
a comer e a beber
e a viver dessa maneira.
Já é tempo de dizer
que a fome tem outro nome.
Que viver já é ter fome.

Ó caralho, Ó caralho!
Ó caralho!

Ao que parece os videoclips são como as conversas e as cerejas...!!